Alguém disse que o Homem só se torna definitivo após cinco
décadas de vivência. Fazendo o paralelismo com o nosso sistema democrático,
diria que antevejo o advento de 10 anos, no mínimo, exigentes...
Eu pertenço à geração do pós-25 de Abril. Desconheço o que é
a privação do exercício de cidadania e de liberdade de expressão ou a
inexistência de qualquer tipo de providencialismo por parte do Estado.
A evidência do reconhecimento que toda a sociedade, e mais
concretamente a minha geração, deve ter para com todos os agentes que, de
alguma forma, contribuíram para a queda do regime ditatorial, reside exatamente
no facto de se constituir como um exercício de extrema dificuldade, a concepção
imaginativa de como era viver nesse Portugal não muito longínquo.
Esse reconhecimento assume-se da maior importância, não só
para que não se esbata a memória coletiva histórica deste episódio singular do
passado recente, mas, fundamentalmente, para imprimir na sociedade e, em
particular, nos agentes políticos, um sentido de responsabilidade permanente
nas suas ações, que não defraude os desígnios substantivos que se pretenderam
alcançar na Revolução de Abril.
Não quero com isto dizer que a nossa democracia tenha donos,
senadores ou capitães. Ou tão pouco que os catecismos das doutrinas políticas
que instigaram a Revolução e inspiraram a Constituição, não possam e devam ser
debatidos sem sofismas. O que afirmo, categoricamente, é que há objetivos de
Abril que, pelo seu carácter universal e incontestável devem permanecer
inscritos na consciência individual de todos os cidadãos.
A letra “D”, de descolonizar, desenvolver e democratizar,
sumariza Abril. Veja-se: o objetivo de descolonizar foi atrapalhadamente
precipitado, mas atingido. O desenvolvimento do país alcançado em quarenta
anos, em grande parte pela adesão de Portugal à então Comunidade Económica
Europeia, é factual e indesmentível. O desafio principal reside, por isso,
fundamentalmente, no fortalecimento contínuo do nosso sistema democrático.
O descrédito dos cidadãos face aos partidos, à classe
política e às próprias instituições democráticas, é preocupante e sintomático
de que algo não está bem. Neste sentido, urge atuar sobre a causa do enfermo.
Com efeito, considero que a sustentação da nossa democracia
reside na nossa juventude. Aos que militam nas juventudes partidárias cabe-lhes
a responsabilidade de serem, em primeira instância, rigorosos e éticos na ação
política que desenvolvem. Aos restantes, exige-se o envolvimento e uma
participação cívica, crítica, incisiva, mas construtiva.
Se os atuais decisores políticos contribuírem para a
prossecução destas premissas, que no fundo constituem os esteios para a
credibilização do sistema político, estou certo que dentro de dez anos
comemoraremos esta efeméride contemplando, sem inquietude de qualquer espécie,
o que Abril nos proporcionou.
(Publicado a 24 de abril de 2014, no espaço de opinião "Opinião Semanal" da página institucional do "facebook" da Concelhia de Alvaiázere da Juventude Social Democrata)